Pessoal, tudo
certo? Esperamos que todos e todas estejam muito bem. Primeiramente,
gostaríamos de dizer que estamos muito felizes que o escritor e premiado
jornalista Xico Sá tenha aceitado o nosso convite para este bate-papo. Xico é autor de
muitos livros; menciono aqui os meus favoritos: Chabadabadá,
Modos de
macho & Modinhas de Fêmea e a Divina
Comédia da Fama. Ele também atua como comentarista esportivo do Programa RedaçãoSportTV e de muitos outros programas de televisão.
E vamos que vamos...
Luso: Xico, o universo
de delícias e agruras das relações entre homens e mulheres está sempre presente
no seu trabalho literário e em suas crônicas publicadas na Folha. O livro Chabadabadá
publicado em 2010, por exemplo, ironiza a figura do “macho perdido” diante das atuais
conquistas e mudanças da mulher moderna. No livro, você clama pela volta e
valorização da mulher “comfort”, que seria uma mulher de formas físicas mais
robustas e curvilíneas, diferente daquelas expostas nas revistas e eventos de
moda. Querido, aproveitando o “mote” do Chabadabadá, o que anda faltando para
que homens e mulheres da modernidade possam finalmente se entender?
Xico: Falta o homem sair do
seu conservador papel de acomodado. Por mais que alguns tenham conseguido
alguma sensibilidade, a maioria continua com a bunda no sofá vendo futebol e
não faz um esforço extra para entender os novos tempos. Por isso, estamos, como
digo no livro, cada vez mais no papel de machos perdidos. E quanto mais a
mulher avança, mais ficaremos no mato sem cachorro, bússola ou GPS.
Luso: Você
desvenda o misterioso universo masculino no livro Modos de Macho e Modinhas de
Fêmeas. O livro é realmente muito bom! Você já se declarou um grande
admirador e leitor dos livros de Nelson Rodrigues. E, na minha opinião, o seu
trabalho literário tem um “quê” rodriguiano.
Bem, além de Nelson Rodrigues, que autores do passado e do presente,
você recomendaria aos nossos estudantes, sedentos por conhecer a diversa
literatura brasileira?
Xico:Sim, sou um devoto confesso
da obra de Nelson Rodrigues. É uma influência que me orgulha e está presente na
minha escrita. Temos uma literatura forte e de muita diversidade. Gosto muito e
releio sempre, aí citados sem ordem cronológica ou de gênero: Machado de Assis,
Graciliano Ramos, Campos de Carvalho, Dalton Trevisan, Clarice Lispector, Hilda Hilst, Inácio de Loyola Brandão, Otto Lara Resende, Rubem Braga, Paulo MendesCampos, Paulo Leminski, Marcelino Freire, Marçal Aquino, Joca Reiners Terron, etc.
Luso: No
livro “A Divina Comédia da Fama”, inspirado no formato do livro de Dante Alighieri -que se baseia nos
ciclos do purgatório, do paraíso e do inferno - você faz muitas críticas ao que
se vê atualmente nos meios televisivos: uma busca incessante pela fama a
qualquer custo, ainda que as razões sejam lamentáveis e nada enobrecedoras. O
Big Brother Brasil talvez seja o exemplo mais gritante desse tipo de fama que
provém da superexposição. O artista Andy
Warhol previu que, no futuro, todos teriam seus 15 minutos de fama. Bem, com o
advento da Internet, o sucesso de redes sociais como o Facebook e a Youtube
mania, parece que Warhol acertou e que estamos mesmo caminhando para uma era de
superexposição. Qual é sua opinião sobre isso?
Xico: Quando publiquei o
livro, o Brasil começava a engatinhar na chamada “indústria da fama”, que já era
forte e consolidada nos EUA. Agora a velocidade é bem maior, com a entrada das
redes sociais. Em vez dos 15 minutos previstos por Warhol, creio que temos hoje
em dia 15 segundos, de tão efêmero é o processo. É um sistema perverso, mas
brinca com ele quem deseja, não é? Ninguém é inocente nesta ilusão dantesca.
Luso: Você
é comentarista esportivo e, portanto, não posso deixar de lhe perguntar sobre a
Copa do Mundo em 2014 e as Olimpíadas em 2016. De forma geral, como você avalia
a preparação para tão importantes e grandiosos eventos? Alguns jornalistas afirmam que o Brasil já
está atrasado para 2014 e que há muita desorganização no processo de preparação
para os dois eventos; os quais exigiriam um altíssimo nível de investimentos
em infraestrutura. Em outras palavras,
você concorda com a idéia de que problemas de infraestrutura podem ser um
entrave para o comitê organizador desses eventos e que isso pode, por
conseqüência, prejudicar a imagem do Brasil no exterior?
Xico:
O comitê organizador no Brasil da Copa 2014 até que avançou um pouco nos
últimos meses, mas o risco de vexame ainda é grande. O que vejo de pior nessa
história é o alto investimento de dinheiro público que vai gerar mais lucro
privado do que uma boa herança de infraestrutura. O mesmo raciocínio vale
também para as Olimpíadas de 2016.
Luso:
Você é de Pernambuco, mas mora em Sampa há muitos anos. Temos muitos alunos que
vão morar em São Paulo e em Recife. Culturalmente falando, o que você sugeriria
àqueles que pretendem explorar essas cidades?
Xico: Sou de família metade pernambucana, metade
cearense. É tanto que nasci praticamente na divisa dos dois estados, na parte
do Cariri cearense, na cidade do Crato, mas me criei no Recife. Hoje fico na
ponte aérea SP/Recife. São duas cidades muito ricas culturalmente. É de
Pernambuco que surgem hoje as melhores bandas de música do país, ainda herança
de Chico Science e o seu manguebeat. Na capital paulista, você encontra um
momento muito forte do teatro e da literatura –recomendo uma visita à Mercearia
São Pedro, um bar-livraria que reúne escritores e leitores em uma clima de
boêmia literária.
Muito obrigada pela participação, querido! Beijos e abraços.
Muito obrigada pela participação, querido! Beijos e abraços.
No comments:
Post a Comment