Wednesday, December 21, 2011

André Sant’Anna - O olhar de um escritor atento às complexidades da natureza humana

Luso: André, você e muitos outros escritores são representantes do Geração 90, um grupo de talentosos escritores que definitivamente trouxe algo de novo para o cenário cultural. Como você analisa a produção literária no Brasil, atualmente?
André: A “Geração 90” surgiu exatamente num momento em que se dizia que não havia uma nova geração de escritores, que os jovens não queriam saber de literatura etc.. Acho que a internet e os blogs ajudaram muito, mas o certo é que, a partir da Geração 90, a literatura brasileira ganhou fôlego, novos adeptos, uma grande quantidade de jovens passou a se interessar por literatura e a escrever, a trocar idéias. Uma série de novas feiras literárias foram surgindo, blogs, prêmios, bolsas... Hoje, há muita gente escrevendo e publicando. A principal característica dos novos autores é que eles não têm um estilo em comum, nem uma temática de grupo. Vivemos o que se chama de pós-modernismo. Cada autor com linguagem e temática próprias. 

Luso: 
A FLIP é freqüentemente mencionada no exterior como um dos mais importantes eventos culturais do momento. Como foi sua experiência participando do festival?  Na sua opinião, a FLIP de fato abre espaço para novos e talentosos escritores?
André: Participei da FLIP de 2006, numa mesa para escritores muito loucos, experimentais, transgressores de vanguarda, ou seja lá que nome isso tenha. Meus companheiros de mesa eram o Reinaldo de Moraes e o Lourenço Mutarelli. Em 2007, voltei à FLIP para participar de uma leitura de “O Beijo no Asfalto”/Nelson Rodrigues, dirigida pela Bia Lessa. Estavam no elenco o Chacal, o Nelson Motta, o Jorge Mautner e foi muito divertido. A FLIP é muito legal. E tem espaço para novos talentos e para autores consagrados no Brasil e internacionais. A convivência é ótima.


Luso: O escritor José Saramago, muitas vezes apresenta personagens que vivem o conflito da busca do amor e do sexo. Como um exemplo disso, eu gostaria de mencionar e recomendar dois de meus favoritos livros do mencionado autor: "A História do Cerco de Lisboa" e "Amor Possível". Ambos apresentam  uma combinação desses dois elementos, uma fusão de amor e de sexo. Como escritor, qual é o seu interesse por esses temas aparentemente simples, mas que talvez reflitam toda a complexidade da alma humana?
André: Tenho uma trilogia cujos livros são: “Amor”, “Sexo” e “Amizade”. Ou seja, meu interesse pelo assunto é grande. Mas, na verdade, nos meus livros, o Amor é desespero, a Amizade é egoísmo e o Sexo é meio nojento. Estamos vivendo o triunfo do “dinheiro”, que, hoje, se tornou o principal valor da espécie humana. Puro consumo de objetos, corações e mentes.

Luso: 
Muitos de nossos alunos viverão no Rio e em São Paulo. O que você sugere para quem quer explorar a vida cultural dessas cidades? Que autores você sugere para alguém que está a estudar Português?
André: São Paulo vive uma decadência bem interessante e agitada. Tribos, vida noturna intensa etc.. Hoje, os grandes shows e espetáculos mundiais passam por São Paulo, pelo Rio um pouco menos... Em São Paulo, o mais interessante é viver o dia-a-dia. É a segunda maior cidade do mundo, cheia de conflitos. Já o Rio, vive um “boom” de otimismo devido às Olimpíadas e à Copa do Mundo. Tem um negócio por lá que eu detesto, que é o tal choque de ordem. Muita polícia na rua etc.. Mas, com isso, as coisas estão mais organizadas, a cidade está mais limpa, menos violenta. O negócio lá é ir para a praia, conhecer as pessoas... Os artistas estão sempre por lá, no Arpoador, que se tornou um “point” do pessoal de artes plásticas, teatro, música etc.. De lá, todo mundo vai para algum lugar depois. Autores brasileiros que, para mim, são imperdíveis: José Agrippino de Paula, Jorge Mautner, Chacal, Marcelo Mirisola (Geração 90, embora ele negue) e meu pai – o Sérgio Sant’Anna.

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