Tuesday, September 4, 2012

Xico Sá - "Falta o homem sair do seu conservador papel de acomodado."


Pessoal, tudo certo? Esperamos que todos e todas estejam muito bem. Primeiramente, gostaríamos de dizer que estamos muito felizes que o escritor e premiado jornalista Xico Sá tenha aceitado o nosso convite para este bate-papo. Xico é autor de muitos livros; menciono aqui os meus favoritos: Chabadabadá, Modos de macho & Modinhas de Fêmea e a Divina Comédia da Fama.  Ele também atua como comentarista esportivo do Programa RedaçãoSportTV e de muitos outros programas de televisão.
E vamos que vamos...
Luso: Xico, o universo de delícias e agruras das relações entre homens e mulheres está sempre presente no seu trabalho literário e em suas crônicas publicadas na Folha. O livro Chabadabadá publicado em 2010, por exemplo, ironiza a figura do “macho perdido” diante das atuais conquistas e mudanças da mulher moderna. No livro, você clama pela volta e valorização da mulher “comfort”, que seria uma mulher de formas físicas mais robustas e curvilíneas, diferente daquelas expostas nas revistas e eventos de moda. Querido, aproveitando o “mote” do Chabadabadá, o que anda faltando para que homens e mulheres da modernidade possam finalmente se entender?
Xico: Falta o homem sair do seu conservador papel de acomodado. Por mais que alguns tenham conseguido alguma sensibilidade, a maioria continua com a bunda no sofá vendo futebol e não faz um esforço extra para entender os novos tempos. Por isso, estamos, como digo no livro, cada vez mais no papel de machos perdidos. E quanto mais a mulher avança, mais ficaremos no mato sem cachorro, bússola ou GPS.

Luso: Você desvenda o misterioso universo masculino no livro Modos de Macho e Modinhas de Fêmeas. O livro é realmente muito bom! Você já se declarou um grande admirador e leitor dos livros de Nelson Rodrigues. E, na minha opinião, o seu trabalho literário tem um “quê” rodriguiano.  Bem, além de Nelson Rodrigues, que autores do passado e do presente, você recomendaria aos nossos estudantes, sedentos por conhecer a diversa literatura brasileira?
Xico:Sim, sou um devoto confesso da obra de Nelson Rodrigues. É uma influência que me orgulha e está presente na minha escrita. Temos uma literatura forte e de muita diversidade. Gosto muito e releio sempre, aí citados sem ordem cronológica ou de gênero: Machado de Assis, Graciliano Ramos, Campos de Carvalho, Dalton Trevisan, Clarice Lispector, Hilda Hilst, Inácio de Loyola Brandão, Otto Lara Resende, Rubem Braga, Paulo MendesCampos, Paulo Leminski, Marcelino Freire, Marçal Aquino, Joca Reiners Terron, etc.

Luso: No livro “A Divina Comédia da Fama”, inspirado no formato  do livro de Dante Alighieri -que se baseia nos ciclos do purgatório, do paraíso e do inferno - você faz muitas críticas ao que se vê atualmente nos meios televisivos: uma busca incessante pela fama a qualquer custo, ainda que as razões sejam lamentáveis e nada enobrecedoras. O Big Brother Brasil talvez seja o exemplo mais gritante desse tipo de fama que provém da superexposição.  O artista Andy Warhol previu que, no futuro, todos teriam seus 15 minutos de fama. Bem, com o advento da Internet, o sucesso de redes sociais como o Facebook e a Youtube mania, parece que Warhol acertou e que estamos mesmo caminhando para uma era de superexposição. Qual é sua opinião sobre isso?
Xico: Quando publiquei o livro, o Brasil começava a engatinhar na chamada “indústria da fama”, que já era forte e consolidada nos EUA. Agora a velocidade é bem maior, com a entrada das redes sociais. Em vez dos 15 minutos previstos por Warhol, creio que temos hoje em dia 15 segundos, de tão efêmero é o processo. É um sistema perverso, mas brinca com ele quem deseja, não é? Ninguém é inocente nesta ilusão dantesca.

Luso: Você é comentarista esportivo e, portanto, não posso deixar de lhe perguntar sobre a Copa do Mundo em 2014 e as Olimpíadas em 2016. De forma geral, como você avalia a preparação para tão importantes e grandiosos eventos?  Alguns jornalistas afirmam que o Brasil já está atrasado para 2014 e que há muita desorganização no processo de preparação para os dois eventos; os quais exigiriam um altíssimo nível de investimentos em infraestrutura. Em outras palavras, você concorda com a idéia de que problemas de infraestrutura podem ser um entrave para o comitê organizador desses eventos e que isso pode, por conseqüência, prejudicar a imagem do Brasil no exterior? 
Xico: O comitê organizador no Brasil da Copa 2014 até que avançou um pouco nos últimos meses, mas o risco de vexame ainda é grande. O que vejo de pior nessa história é o alto investimento de dinheiro público que vai gerar mais lucro privado do que uma boa herança de infraestrutura. O mesmo raciocínio vale também para as Olimpíadas de 2016.

Luso: Você é de Pernambuco, mas mora em Sampa há muitos anos. Temos muitos alunos que vão morar em São Paulo e em Recife. Culturalmente falando, o que você sugeriria àqueles que pretendem explorar essas cidades?
Xico: Sou de família metade pernambucana, metade cearense. É tanto que nasci praticamente na divisa dos dois estados, na parte do Cariri cearense, na cidade do Crato, mas me criei no Recife. Hoje fico na ponte aérea SP/Recife. São duas cidades muito ricas culturalmente. É de Pernambuco que surgem hoje as melhores bandas de música do país, ainda herança de Chico Science e o seu manguebeat. Na capital paulista, você encontra um momento muito forte do teatro e da literatura –recomendo uma visita à Mercearia São Pedro, um bar-livraria que reúne escritores e leitores em uma clima de boêmia literária.


Muito obrigada pela participação, querido! Beijos e abraços.

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