Thursday, June 7, 2012

JUNHO - Mês das Festas Juninas!

Dica da Professora Dione P. - Se vocês gostariam de saber mais sobre as Festas Juninas do Brasil, cliquem aqui e aqui.

A Quadrilha - Leiam sobre essa divertida dança típica aqui.

O  grande poeta Carlos Drummond de Andrade inspirou-se nas quadrilhas juninas para escrever o poema abaixo:


A Quadrilha
João amava Teresa que amava Raimundo

que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili

que não amava ninguém.



João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, 

Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,

Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes,

que não tinha entrado na história.



Uma Possibilidade de Leitura - A Quadrilha de Drummond


Há muito o poema "A Quadrilha" me fascina por sua simplicidade estrutural e  beleza de conteúdo. A escolha  que Drummond faz das palavras confere muito significado a esse trabalho poético. A seleção do verbo amar no pretérito imperfeito (amava), por exemplo, além de dinamizar a narrativa, confere-lhe efeito de circularidade. Façam o teste:  Troquem o verbo amava (pretérito imperfeito) pela forma verbal amou (pretérito perfeito). Vocês certamente perceberão que o poema perde toda a sua musicalidade e dinamismo.
Observem como o verso ficaria se a forma verbal fosse alterada: João amou Tereza que amou Raimundo. Ação finalizada. Amou e não ama mais. Fim.
Mas o poeta sabia que a Quadrilha é  dança, a dança dos amores que ficam e que passam. Segundo a ótica (um pouco pessimista) de Carlos, o amor não é um sentimento recíproco, ou seja, na dança da vida, estaríamos fadados ao desespero de amar sem sermos amados. Será? Chico Buarque ao compor a maravilhosa canção "Flor da Idade" estabelece uma relação intertextual com esse poema, mas nos versos escritos por Chico, apesar de rara, a reciprocidade amorosa é possível. Ufa! Também acredito nisso. Aliás, não deixem de ouvir "Flor da Idade". Observem abaixo o trecho retirado da canção de Chico:


"Carlos amava Dora que amava Lia que amava Léa que amava Paulo que amava Juca que amava Dora que amava Carlos amava Dora que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava Carlos amava Dora que amava Pedro que amava tanto que amava a filha que amava Carlos que amava Dora que amava toda a quadrilha.."


Ainda sobre os tempos verbais, pode-se observar que, na segunda estrofe, quando o poeta se refere a assuntos da vida cotidiana, a forma verbal privilegiada passa a ser o pretérito perfeito, observem: casou, morreu, mudou, foi, suicidou-se... Todas as ações estão acabadas.
 Outro detalhe que me chama a atenção é o fato de que as personagens desse poema-narrativa possuem nomes e são parte da quadrilha, ou seja, metaforicamente, arriscam-se ao amor. Lili dança a quadrilha e, apesar de não amar ninguém e não possuir exatamente um nome, casa-se com J. Pinto Fernandes que é conhecido pelo leitor apenas no final desta história. A partir da leitura dos dois últimos versos, pode-se afirmar o seguinte: Lili não se casou por amor, afinal ela não amava ninguém; J. Pinto Fernandes, a personagem com quem Lili se casou, não tem um nome, mas um sobrenome. E, cá entre nós, J. Pinto Fernandes mais parece a razão social de uma empresa e, portanto, teria Lili se casado por interesse?A criação dessas duas personagens sem nome parece ser uma crítica do poeta às relações movidas apenas por interesses materiais. O sobrenome da personagem sem essência e sem nome J. parece apontar para essa possibilidade de leitura.  E quanto a Joaquim: o que motivou-o ao suicídio? E as outras personagens?Na segunda estrofe, todas perdem o Amor, o único vínculo que as unia, e passam a existir em seus universos isolados. Pois é, ainda que Drummond nos apresente um trágico universo de relações amorosas, quanta sensibilidade há nestas inspiradas linhas.  

Por Laura Beatriz

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